COLABORAÇÃO - Maria Lúcia do Prado (Advogada e Professora)
Não há como falar sobre cotas raciais sem passar pela qualidade da educação. Isto porque aquele é conseqüência desta, no meu ponto de vista.
Como professora há mais de 15 anos, tenho assistido, impotente, ao sucateamento dos ensinos fundamental e médio. As escolas públicas, principalmente as estaduais, criaram um sistema de ciclos que praticamente anula a reprovação. Não critico a idéia, pois também acredito que há necessidade de mudar o método de avaliação. Critico, sim, a forma como o sistema é trabalhado. Primeiramente, porque os profissionais não são preparados para lidar com esse tipo de avaliação e isso faz com que a maioria deles não o apliquem de forma adequada. Depois, porque os alunos acabaram interpretando mal e não entenderam que o mais importante seria adquirir conhecimentos que permitissem a sua promoção; e a má interpretação gerou um grande equívoco: "professor não pode reprovar o aluno". Essa idéia foi criando fortes raízes e acabou atingindo boa parte dos professores que, pela lei do menor esforço, e também por falta de condições de oferecer um trabalho de boa qualidade, acreditaram que seria mais fácil aprovar. Tudo isso culminou no que eu disse no início: sucateamento do ensino público. Claro que esse sucateamento não tem como única causa o que acabei de expor, inúmeros fatores contribuíram para que isso ocorresse, mas não cabe aqui enumerá-los.
Tudo isso levou a um fato que, acredito, não era esperado pelo governo: os alunos de escolas públicas não conseguiam ingressar nas universidades públicas !! Paradoxo ?? Não! Conseqüência de um sistema educacional falido. Daí vem a tentativa de corrigir ou amenizar o problema que foi aumentando a cada ano, com isso foi criado o sistema de cotas raciais. Ou seja, ao invés de reestruturar o sistema educacional ( o que daria um grande trabalho e uma despesa enorme!) o governo prefere buscar o caminho que entende ser mais fácil e não enxerga que, agindo assim, está institucionalizando a desigualdade social expandindo o sucateamento para o ensino superior.
Lúcia
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