quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

TEMA DO MÊS COTAS RACIAIS:


COLABORAÇÃO: CHRISTINA RAMIRES FERREIRA (Veterinária - ligada ao meio universitário)

Deixo aqui a opinião a respeito das cotas raciais nas universidades (quem sabe com as informações que devem aparecer no grupo, ela mude).

Condeno totalmente as cotas raciais. Primeiro porque elas estimulam segregação racial e depois porque tratam cidadãos diferentemente, o que não é certo. Mesmo que isso aconteça constantemente na nossa sociedade, não significa que deva ser institucionalizado.

Parece muito mais sensato distribuir bolsas de estudo para universitários de baixa renda, ou que haja programas governamentais para financiar de modo diferenciado o estudo de crianças de baixa renda com aptidões acima da média, já que não há possibilidade para todas atualmente. O ideal seria uma reforma que acabasse com a distorção do baixo investimento em ensino básico e do alto gasto com o ensino superior, que faz muitas Universidades terem a maioria dos alunos da classe média e média-alta, que poderiam pagar pelos estudos. Poucos países conseguem se dar ao luxo (= serem suficientemente ricos) de conseguir oferecer universidades públicas e proporcionar um ensino fundamental decente. O que vai afetar mais gente? O que é mais importante para a sociedade? Não dá, tem que escolher.

Quando entrei na veterinária em 1993, havia um programa de "inclusão" de alunos de outros países sul-americanos. Dois alunos, paraguaios, foram parar na minha turma. Foi uma experiência terrível para eles, os dois acabaram desistindo. Eles simplesmente não conseguiram passar nas disciplinas básicas. Primeiro, achamos que o problema era o idioma, mas depois percebemos que eles não tinham conhecimentos básicos de química, biologia e matemática, por exemplo.

Não adianta tentar consertar uma distorção com outra. Imagine a auto-estima dos alunos das cotas raciais, a maioria deles, por causa de uma educação anterior deficiente, terá dificuldades imensas.

Também tive a oportunidade de dar aulas num cursinho pré-vestibular, organizado e coordenado por universitários da Unesp de Jaboticabal. Os estudantes do terceiro colegial do sistema público eram entrevistados por uma assistente social e pagavam no máximo o material. De cerca de 100 alunos que terminavam o cursinho, 1 ou 2 passavam em uma universidade pública. O cursinho ainda existe, mas é quase como enxugar gelo: um esforço enorme para pouco resultado. O problema do qual todos o "professores" que queixavam, é que não adiantava dar as disciplinas do terceiro colegial, se os alunos tinham conhecimentos de quinta-série. Era frustrante para eles, que tinham dificuldade em acompanhar as aulas e para nós, que víamos que não conseguíamos fazê-los aprender o que deveriam saber para passar no vestibular e conseguir acompanhar um bom curso universitário.

O trabalho do Samaritano é um bom exemplo de como não se precisa de cotas raciais para diminuir diferenças sociais. Muitas pessoas vão melhorar a condição social com a formação profissional que a instituição proporciona. Talvez em pouco tempo, comecem a aparecer no blog os relatos do sucesso dos ex-alunos!

um grande abraço,

Chris



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