Sempre gosto de deixar claro que a adoção do ponto de vista social é péssima, pois uma sociedade justa deve dar condições mínimas para os pais criarem seus filhos, não havendo crianças para adoção. Alem disto o Brasil precisa urgente de uma política de controle de natalidade, inclusive com a legalização do aborto. Direito à vida, sim, mas uma vida digna e não uma vida de privações e sujeitas a todo tipo de violência.
Bom, mas acho que este não é o foco do grupo de discussão de vocês e sim questões conjunturais dos pais.
Como tudo na vida, na adoção também cada caso é um caso, mas eu destacaria os seguintes pontos:
Toda adoção deve ser feita de maneira legal, através dos procedimentos jurídicos necessários. É mais moroso, é chato, mas evita constrangimentos futuros como chantagem dos pais biológicos, remorso. Alem disto o tempo de espera da papelada servem como gestação. Você pode ler, conversar a respeito e assim amadurecer a decisão.
Eu divido a adoção em 3 grandes grupos. A adoção inicial (de recém nascidos), a adoção tardia (crianças acima de três anos) e a adoção tardia múltipla (grupo de irmãos acima dos três anos).
Em todas elas a verdade nunca pode ser omitida, respeitando sempre a historia de vida da criança.
Numa adoção inicial, não havendo omissão da verdade, é como um filho natural, a criança é criada no ritmo da família. Problemas (socio-psicológicos) durante a gestação não irão influenciar no futuro da criança. Mesmo uma desnutrição terá poucas consequencias. Se houverem problemas de comportamento social no futuro será em função do modelo de criação adotado. Será o mesmo que ter um filho natural rebelde, coisa que acontece em todo o tipo de classe social, tendo pouca ou nenhuma relação com o fato da criança ter sido adotada.
A adoção tardia já vai trazer algumas marcas sociais na criança em função da experiência dela em uma instituição ou família desestruturada. Isto vai ter que ser trabalhado, mas sem dó. A gente vê mais ou menos assim: Ate agora foi assim, eu respeito a sua historia e o seu passado, mas daqui para frente vai ser assado. A criança adotada não tem que ser compensada em nada. A compensação é uma forma de preconceito velada, bem típica da hipocrisia social brasileira.
Quando se faz uma compensação, é porque não vê naquilo que precisa ser compensado um igual. O fato de uma criança ter sido adotada, não a faz diferente das outras. As realizações de um adulto que foi adotado quando criança, só vão depender do potencial e do esforço pessoal dele, como em qualquer ser humano. Acho que a maior missão dos pais adotivos é vigiar para em nenhum momento o filho caia na tentação de usar a adoção como muleta.
A adoção tardia múltipla tem a mais o elemento do arranjo social já estabelecido entre os irmãos como instinto de sobrevivência no ambiente institucional ou desestruturado. Quanto mais velhas as crianças, mais sedimentado tende a estar este arranjo. Aos pais adotivos caberá uma dose de atenção a mais para ir quebrando gradualmente este arranjo a fim de consolidar uma nova hierarquia na família, onde os pais tenham a autoridade sobre o grupo. O irmão mais velho tende a ser um mini-adulto e ter responsabilidades sobre os mais novos. Para este os pais tem que ir tirando esta carga de responsabilidade e ensinar a viver como crianças. Os mais novos são submissos à vontade e a autoridade do mais velho. Para estes os pais tem que mostrar que eles podem agir com autonomia e não se submeter mais ao irmão mais velho e sim aos pais.
Tudo o que foi dito acima tem que fundamentalmente ser feito com muito amor. Para adotar é preciso gostar de crianças, ter tempo para elas. Nunca adote por caridade, a criança percebe, se for adotar, adote por amor.
Adote por você, para expressar a sua paternidade de forma responsável (como também deve ser em uma gravidez de filhos naturais) e não espere nada em troca da criança, nem hoje e nem no futuro.
Em linhas gerais é isto. Lógico que cada comentário tem um monte de particularidades dependendo do ponto de vista de cada pessoa. Aqui eu coloquei, como eu e a minha esposa vemos a situação dentro da experiência que vivemos.”
sábado, 19 de abril de 2008
DEPOIMENTO
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